sexta-feira, 13 de novembro de 2009


FOI SEM QUERER

Podem–se julgar os fatos sob vários pontos de vista... Quando a questão é jurídica, os pontos de vista são basicamente os seguintes: a) Fulano realizou ou não determinada ação ? b) Se realizou, em que condições o fez?... do ponto de vista da caracterização da culpa, há o que se chama de atenuantes – Fulano cometeu um erro, mas há fatores que diminuem sua responsabilidade.

Vamos a um domínio mais restrito, o do discurso – dos atos que realizamos falando. Muitas vezes, o que dizemos recebe uma interpretação que não queremos, ou que não prevemos. Assim, podemos ofender pessoas ou grupos através de certas palavras ou expressões, mesmo que nossa intenção não seja essa. Ao contrário, poderemos estar apenas querendo nos divertir e divertir a outros. A questão é: para caracterizar o fato de que o que dizemos pode ser ofensivo a grupo ou a pessoas, a intenção de ofender é essencial?

Nossa televisão tem vários programas nos quais as pessoas se divertem com problemas dos outros – pequenas desgraças..., situações humilhantes ou constrangedoras... etc. O fato de que nos divertimos com isso pode significar que se trata de coisas inocentes, mas também pode significar que nos divertimos à custa dos que estão em situações que os inferiorizam de alguma forma. O fato de que fazemos coisas erradas sem querer significa apenas que as fazemos sem querer, e não que tais coisas não são erradas.

Trechos extraídos do livro “ A cor da língua” de Sírio Possenti .

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