Um cafezinho por favor !
Por Dr. Alessandro Loiola
De manhã cedo, vigiando a panela enquanto a água fervia para um café, me flagrei divagando sobre comidas que considero estranhas. Por exemplo: dá até para entender como descobriram a pipoca. Depois do incêndio no milharal, o sujeito saiu das cavernas e viu vários flocos branquinhos; desceu um goela abaixo e o resto é aquilo que você leva para comer no cinema.
Mas e os vegetais comestíveis? Quem foi o maluco que saiu mastigando cada matinho das redondezas para saber o que prestava ou não? Imagino as legiões de neandertais alucinados com cogumelos tóxicos e outros tantos escondidos nas moitas com gastrenterites lendárias que jamais saberemos.
Outra: quem foi o obcecado que descobriu a mandioca? Tente arrancar uma para você ter uma ideia do esforço. E depois socar aquilo em um pilão até virar farinha… Isso para não falar que a parte comestível, a raiz, pode conter substâncias altamente tóxicas. Só é possível distinguir as espécies venenosas em um laboratório – que certamente não estava disponível no neolítico. Felizmente, deixar a raiz da mandioca descascada em água por uma hora ou duas e depois cozinhar por mais uma hora em água fervendo a torna apta ao consumo.
Como a turma do tacape foi descobrir isso, não sou eu quem irá responder.
E chegamos ao café. Você tem que concordar, o café não é lá uma planta amigável: o fruto deve ser colhido, secado, torrado, moído e passado em água quase fervente. Em termos de otimização do gasto de energia, seria mais econômico simplesmente chupar uma laranja ao invés de torturar grãos de café. Mas não, tínhamos que inventar moda. Há 6 mil anos, sem shopping center, playstation ou revistinhas de palavras-cruzadas, todo o potencial de raciocínio ocioso do ser humano primitivo não poderia resultar em outra coisa, e fomos invadindo as intimidades da natureza.
Reza a lenda que o café foi descoberto na região de Caffa, Etiópia, quando um pastor chamado Kaldi observou uma de suas cabras com um comportamento muito ativo e animado. Ao investigar, percebeu que a cabra saltitante havia comido algumas frutinhas amarelo-avermelhadas. É óbvio que não tardou para que Kaldi experimentasse uma infusão das frutas e descobrisse um excelente combustível para suas horas extras de pastoreio.
EstimulanteO extraordinário potencial estimulante do café sempre foi motivo de preocupação. Por isso, há alguns anos, ele vem sendo alvo de pesquisas para determinar seu potencial de risco para a saúde. Se você, como eu, não abre mão de um bom cafezinho, anote aí algumas excelentes notícias sobre os estudos mais recentes e outras desculpas para uma xícara a mais:
- O consumo moderado de café (4-6 xícaras por dia) diminui o risco de diabetes tipo 2, pedras na vesícula, câncer no intestino grosso, doença de Parkinson, mal de Alzheimer e reduz a incidência de cirrose em pessoas com doenças crônicas no fígado.
- O café melhora as funções cognitivas, a capacidade de concentração, a velocidade de raciocínio e o desempenho em atividades físicas de resistência. Algumas pesquisas sugerem ainda que crianças que tomam café com leite diariamente apresentam uma incidência menor de depressão quando comparadas a crianças que não tomam a mesma mistura.
- Se você for apelar para um cafezinho para combater o sono, uma dica: ao invés de tomar de uma vez só aquela xícara de 5 litros, procure separar um pouco as tomadas ao longo do período em que deseja permanecer acordado. Prepare seu cafezinho e tome 6 colheres de sopa de hora em hora.
- Apesar de tantos benefícios, o café não é completamente inocente. Em excesso, ele pode causar indigestão, hipoglicemia, descontrole nos níveis de colesterol, problemas de fertilidade, nervosismo, ansiedade, tremores, aceleração dos batimentos cardíacos e aumento do risco para osteoporose.
- Além disso, café vicia. Pessoas que têm o hábito de tomar quantidades generosas experimentam sintomas de abstinência quando tentam parar de uma vez. Estes sintomas incluem dores de cabeça, fadiga, desânimo, dificuldade de concentração, irritabilidade e até mesmo depressão. O quadro de abstinência se inicia cerca de 12-24h após a última dose de café e pode se estender por até 10 dias.
Se preferir um resumo dessa história toda, guarde apenas isso: o café possui poucos riscos e muitos benefícios para sua saúde, mas o segredo está na moderação. Mantenha uma boa média diária com algumas gotas de adoçante ou pouquíssimo açúcar, e você certamente extrairá apenas a parte boa da história.
Agora deixa ir que a água está quase no ponto. Aceita uma xícara aí?
Por Dr. Alessandro Loiola
De manhã cedo, vigiando a panela enquanto a água fervia para um café, me flagrei divagando sobre comidas que considero estranhas. Por exemplo: dá até para entender como descobriram a pipoca. Depois do incêndio no milharal, o sujeito saiu das cavernas e viu vários flocos branquinhos; desceu um goela abaixo e o resto é aquilo que você leva para comer no cinema.
Mas e os vegetais comestíveis? Quem foi o maluco que saiu mastigando cada matinho das redondezas para saber o que prestava ou não? Imagino as legiões de neandertais alucinados com cogumelos tóxicos e outros tantos escondidos nas moitas com gastrenterites lendárias que jamais saberemos.
Outra: quem foi o obcecado que descobriu a mandioca? Tente arrancar uma para você ter uma ideia do esforço. E depois socar aquilo em um pilão até virar farinha… Isso para não falar que a parte comestível, a raiz, pode conter substâncias altamente tóxicas. Só é possível distinguir as espécies venenosas em um laboratório – que certamente não estava disponível no neolítico. Felizmente, deixar a raiz da mandioca descascada em água por uma hora ou duas e depois cozinhar por mais uma hora em água fervendo a torna apta ao consumo.
Como a turma do tacape foi descobrir isso, não sou eu quem irá responder.
E chegamos ao café. Você tem que concordar, o café não é lá uma planta amigável: o fruto deve ser colhido, secado, torrado, moído e passado em água quase fervente. Em termos de otimização do gasto de energia, seria mais econômico simplesmente chupar uma laranja ao invés de torturar grãos de café. Mas não, tínhamos que inventar moda. Há 6 mil anos, sem shopping center, playstation ou revistinhas de palavras-cruzadas, todo o potencial de raciocínio ocioso do ser humano primitivo não poderia resultar em outra coisa, e fomos invadindo as intimidades da natureza.
Reza a lenda que o café foi descoberto na região de Caffa, Etiópia, quando um pastor chamado Kaldi observou uma de suas cabras com um comportamento muito ativo e animado. Ao investigar, percebeu que a cabra saltitante havia comido algumas frutinhas amarelo-avermelhadas. É óbvio que não tardou para que Kaldi experimentasse uma infusão das frutas e descobrisse um excelente combustível para suas horas extras de pastoreio.
EstimulanteO extraordinário potencial estimulante do café sempre foi motivo de preocupação. Por isso, há alguns anos, ele vem sendo alvo de pesquisas para determinar seu potencial de risco para a saúde. Se você, como eu, não abre mão de um bom cafezinho, anote aí algumas excelentes notícias sobre os estudos mais recentes e outras desculpas para uma xícara a mais:
- O consumo moderado de café (4-6 xícaras por dia) diminui o risco de diabetes tipo 2, pedras na vesícula, câncer no intestino grosso, doença de Parkinson, mal de Alzheimer e reduz a incidência de cirrose em pessoas com doenças crônicas no fígado.
- O café melhora as funções cognitivas, a capacidade de concentração, a velocidade de raciocínio e o desempenho em atividades físicas de resistência. Algumas pesquisas sugerem ainda que crianças que tomam café com leite diariamente apresentam uma incidência menor de depressão quando comparadas a crianças que não tomam a mesma mistura.
- Se você for apelar para um cafezinho para combater o sono, uma dica: ao invés de tomar de uma vez só aquela xícara de 5 litros, procure separar um pouco as tomadas ao longo do período em que deseja permanecer acordado. Prepare seu cafezinho e tome 6 colheres de sopa de hora em hora.
- Apesar de tantos benefícios, o café não é completamente inocente. Em excesso, ele pode causar indigestão, hipoglicemia, descontrole nos níveis de colesterol, problemas de fertilidade, nervosismo, ansiedade, tremores, aceleração dos batimentos cardíacos e aumento do risco para osteoporose.
- Além disso, café vicia. Pessoas que têm o hábito de tomar quantidades generosas experimentam sintomas de abstinência quando tentam parar de uma vez. Estes sintomas incluem dores de cabeça, fadiga, desânimo, dificuldade de concentração, irritabilidade e até mesmo depressão. O quadro de abstinência se inicia cerca de 12-24h após a última dose de café e pode se estender por até 10 dias.
Se preferir um resumo dessa história toda, guarde apenas isso: o café possui poucos riscos e muitos benefícios para sua saúde, mas o segredo está na moderação. Mantenha uma boa média diária com algumas gotas de adoçante ou pouquíssimo açúcar, e você certamente extrairá apenas a parte boa da história.
Agora deixa ir que a água está quase no ponto. Aceita uma xícara aí?